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Histórico do Grupo Gira-Sol

A criação do grupo Gira-Sol data de 2005, quando alunos interessados em desenvolver a Agroecologia no campus, começaram um grupo de estudos sobre a temática. A partir desses encontros se idealizou a criação de uma área que, futuramente, pudesse ser utilizada para pesquisa e aplicação de técnicas agroecológicas.

O primeiro local escolhido para ser a área experimental, foi uma mata ciliar degradada que localiza-se nos limites do terreno da universidade, na divisa com o Horto Florestal Edmundo Navarro de Andrade. A escolha desta área foi feito por se tratar de uma Área de Preservação Permanente (APP) degradada, dentro dos limites do campus.

A primeira fase da restauração se deu no primeiro semestre de 2006, quando ocorreram mutirões para a retirada de lixo e aplicação de medidas para a contenção do assoreamento. Deste momento em diante se consolidou uma das característica do grupo, o mutirão. Ele é uma ferramenta de resgate do senso de comunidade e coletividade, características elementais da agricultura familiar ancestral.

Em 2007, ano das primeiras atas do grupo, com o intuito de dar continuidade a restauração da área, foram elaborados grupos de estudos para o planejamento das atividades voltadas ao preparo da terra e execução das atividades de plantio. Neste período, também surgiram as primeiras parcerias do grupo, como o Semente Viva, grupo extensão em educação ambiental, ainda parceiro do grupo; o viveiro de mudas da prefeitura, que forneceu mudas arbóreas; a Fundação Mokiti Okada que contribuiu com as análises das águas do Córrego Bandeirantes; e a Pirái Sementes Ltda, que forneceu adubação verde de inverno e de verão. Vale ressaltar que o projeto foi exposto no Seminário Nacional de Formação em Agroecologia, que ocorreu em Botucatu.

Já em 2008 e 2009, o grupo começou a atuar com a educação ambiental, através de um projeto desenvolvido em um bairro próximo a UNESP. Nesses anos, as pessoas do grupo procuraram expandir seus em relação a parte prática de manejo, através de oficinas, vivências, cursos, palestras e também a exibição e debate de filmes voltados ao manejo agroflorestal.

No final do ano de 2009, ocorreu um incêndio na área onde haviam iniciado a implantação do SAF. Somando-se a dificuldade com formigas, carrapatos e o gado de particulares que pastoreavam na área, o grupo resolve iniciar o processo de recuperação em outro local.

Em 2010, teve início a implantação de uma nova área experimental, em um terreno cedido pela Universidade atrás do Departamento da Ecologia. O local era dominado por capim braquiária, que recobria um solo repleto de entulho. Após 7 anos de manejo e persistência do grupo, hoje a área é ocupada por uma floresta com grande diversidade ecológica e solo com indicadores satisfatórios de recuperação química e estrutural (Teixeira, 2013; Bredariol, 2015).

A busca por constante informação e instrução dos participantes do grupo, através da participação em cursos, congressos e visitas à outros SAFs, unida aos estudos e leitura de textos, permitiram a implementação de diversas técnicas que eram trazidas pelos participantes do grupo.

Em 2011, o espaço já recebia solicitação para visitas, tanto de escolas, quanto de pessoas interessadas na temática da agroecologia, alimentação saudável e educação ambiental. Neste momento percebeu-se que o grupo já estava se tornando referência para outros grupos com o mesmo objetivo.

Em 2013 houve o contato com um agricultor assentado, que tinha interesse na implantação de um SAF em sua propriedade. Porém, devido a falta de estrutura, disponibilidade de transporte do grupo e material, o projeto não teve continuidade. Simultaneamente, o grupo participou da implantação e o manejo de uma horta orgânica com mulheres beneficiárias do Bolsa Família, no perímetro urbano no município de Santa Gertrudes. Foi uma experiência que fortaleceu a resiliência do grupo, quando se trata de conflito de pessoas e instituições envolvidas no projeto. Ainda no de 2013, foi desenvolvida outra horta, mas desta vez, com as crianças do CCI (Centro de Convivência Infantil) da UNESP. É importante lembrar que em todos esses projetos buscou-se o máximo envolvimento dos atingidos, tanto na implantação quanto no manejo.

Também nessa época, foi firmada a parceria com a Casa da Agricultura de Rio Claro, cunhada na reativação do viveiro de mudas e posterior utilização por parte do grupo, fato que facilitou a produção de mudas e sementeiras para uso em diversos projetos. Essa parceria se mantém firme até os dias de hoje, e ainda contribui consideravelmente com a experiência dos participantes em manutenção de viveiros, irrigação, preparos de mudas e conservação de sementes. Tanto que, neste mesmo ano de 2013, o grupo deu início a um banco de sementes coletivo, com o intuito de abrigar as sementes trazidas pelos participantes de encontros e outras experiências.

Além da implantação do “novo” SAF, o grupo procurava contribuir com pessoas interessadas na temática, através de mutirões para a implantação de canteiros, hortas verticais, quintais produtivos e entre outros. Tal atitude incentivava as pessoas a trabalharem com a agroecologia e o plantio orgânico no dia-a-dia.

O SAF começava a receber pesquisas, servindo de base para a realização de dois Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Um deles comparou um perfil de solo do sistema agroflorestal e de outra área predominada por braquiárias. O outro TCC fez um levantamento de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s) dentro do SAF. Além de servir de base para os trabalhos, alguns professores começaram a utilizá-lo para suas aulas práticas.

Aos poucos o grupo disseminou sua atuação e passou a ser procurado para facilitar atividades nas Semanas de Estudos do campus, para expor sua atuação em eventos da UNESP direcionados a comunidade de Rio Claro e mesmo por outras instituições, como a IF Sul de Minas, onde ministrou uma oficina de Plantas Alimentícias Não-Convencionais. Outro ponto de amadurecimento foi o envolvimento com a Rede Nacional de Grupos de Agroecologia (REGA), autogerida por vários coletivos e grupos de agroecologia, em sua maioria ligados a Universidades. Por meio da REGA o grupo ganhou visibilidade nacional e se inseriu nas articulações regionais, passando a construir em rede movimento social que busca difundir a agroecologia.

A vivência na REGA, e o fortalecimento da articulação estadual motivou o grupo a construir o construiu o VI Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia (ENGA). O evento foi planejado e executado através de metodologias participativas, envolvendo grupos de São Carlos, Botucatu, Piracicaba, Sorocaba, Araras e São Paulo. Cerca de 700 pessoas vivenciaram 4 dias de imersão nos debates, mutirões e construção da articulação nacional.

Atualmente o grupo busca um aprofundamento nas bases teóricas da agroecologia, bem como praticar a extensão universitária. Em 2016 novas atividades foram incorporadas ao grupo: A Semana Agroecológica – Para além da técnica e o Gira-Cine. Ambas buscam visibilizar a agroecologia na cidade de Rio Claro, a primeira sendo um evento de debates, mesas redonda e oficinas para que pesquisadores, agricultores e movimentos sociais exponham as diversas compreensões de Agroecologia. O segundo é uma ferramenta, a exibição e debate de filmes e curtas sobre temas relacionados à agricultura e sociedade.

Outra atividade importante tem sido o trabalho de junto a comunidade do Jd Novo I, onde o grupo vem ajudando a consolidar iniciativas na área ambiental (avaliação participativa do bairro, oficinas, debates etc) e desenvolvendo um trabalho de educação ambiental e soberania alimentar no Complexo Educacional.

Retirado do TCC: “Agrofloresta agroecológica e envolvimento educativo: A experiência do grupo Gira-Sol“ de Isabelle Sucena. Resumido por Bruno Fritura e Larissa Harissa.